quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Carnaval, uma festa pagã


"Entrudo no Rio de Janeiro", de Augustus Earle (1822)
No livro “Carnaval brasileiro”, da antropóloga Maria Isaura Pereira de Queiroz, diz que muito antes do Cristianismo, o Carnaval era chamado de “Entrudo” (termo que foi introduzido no Brasil pelos portugueses, por volta do século XVI – o costume de brincar no período “carnavalesco”, que variava de formas de aldeia para aldeia), em que comemorava a entrada da Primavera, no Hemisfério Norte. Segundo ela, a festa foi incorporada por um tempo às práticas cristãs e passou a ser comemorada a partir do sábado anterior à quarta-feira de Cinzas. O objetivo era comer e festejar tanto quanto fosse possível, pois a Igreja entraria na Quaresma, tempo de penitência, reclusão e silêncio interior.

“Das práticas rituais de tribos indígenas que davam boas vindas à Primavera e celebravam a fertilidade, o Carnaval surgiu pelo cristianismo durante a propagação da Igreja pela Península Ibérica. Em Portugal, país de origem da data festiva na Europa, as comemorações passaram a ter outros significados. Já não eram mais a primavera ou a fertilidade, mas o contraste entre virtude e vício, vida e morte, Quaresma e Entrudo. Máscaras e fantasias eram utilizadas para representar cada personagem.”.

O Carnaval (do Latim "carnis" - carne, e "valles" - prazeres) sempre foi marcado por contrastes, inclusive os sociais. “A rapidez com que a festa foi adotada pelos cristãos demonstrava a existência de um desejo profundo do povo de revirar a situação de dominação existente, substituindo-a por outra”, afirma Maria Isaura.

"Originário dos "Ritos da Fertilidade da Primavera Pagã", o primeiro carnaval que se tem origem foi na Festa de Osiris, no Egito – o evento que marcava o recuo das águas do Nilo. Os Carnavais alcançaram o pico junto com a Bacanália. Durante a Idade Média a Igreja tentou controlar as comemorações. A tradição do Carnaval ainda é comemorada na Bélgica, Itália, França e Alemanha. No ocidente, o principal carnaval acontece no Rio de Janeiro (desde 1840) e a Mardi Gras, em New Orleans, E.U.A. (dede 1857). Pré-Cristãos medievais e Carnavais modernos tem um papel temático importante. Eles celebram a morte do inverno (no Hemisfério Norte) e a celebração do renascimento da natureza, ultimamente reunimos o individual ao espiritual e aos códigos sociais da cultura. Ritos antigos de fertilidade, com eles sacrifícios aos Deuses, exemplificam esse encontro. Por outro lado, o carnaval permite paródias, e separação temporária de constrangimentos sociais e religiosos." (The Grolier Multimedia Encyclopedia, 1997).

Ainda na Enciclopédia Grolier, explicando o que é o carnaval: “(...) uma festa pagã que os católicos tentaram mascarar para parecer com uma festa cristã, assim como fizeram com o Natal”, também ligada aos festivais de Baco e Dionísio:

"A juventude de Baco", de Willian-Adolphe Bouguereau (1884)
Bacanália (do Latim Bacchanale) é o nome que se dava na Roma Antiga aos rituais religiosos em homenagem a Baco (ou Dionísio), Deus do vinho, por ocasião das vindimas (período de colheita da uva e fabricação do vinho), em que havia um cerimonial sério e contrito, de início, seguido por uma comemoração pública e festiva.

"A Bacanal", de Peter Paul Rubens
Os bacanais foram introduzidos em Roma e vindos do sul da Península Itálica através dos Etruscos, há cerca de 1000 a.E.C.. Eram secretos e frequentados somente por mulheres durante três dias no ano. Posteriormente, os homens foram admitidos nos rituais e as comemorações aconteciam cinco vezes por mês. Ao invadirem as ruas de Roma, dançando, soltando gritos estridentes e atraindo adeptos do sexo oposto em número crescente, os bacanais começaram a causar certas desordens, onde conspirações políticas se faziam durante as festividades, levando à promulgação de um decreto, em 186 a.E.C., que proibia a festividade.

Uma Ménade com um tirso.
Fragmento de cerâmica no Museu do Louvre
O bacanal era feito por mulheres que corriam pelas ruas e pelos campos, à noite, seminuas, cobertas com peles de tigre ou pantera, fixadas na cintura com festões de hera e pâmpanos. Empunhavam o Tirso (bastão envolvido em hera e ramos de videira, encimado por uma pinha), algumas com os cabelos soltos carregavam fachos.

Aos gritos de Evoi! Evoi! (origem do grito carnavalesco Evoé!), em honra de Evan, epíteto de Baco, soavam as flautas e tambores juntamente com os címbalos e as castanholas presas às vestes. Dava-se às mulheres que participavam das Bacanais o nome de Menades (ou Ménades), termo grego que significa "furiosas".

Fato é que de lá para cá o Carnaval sofreu diversas, grandes e profundas transformações sociais. De rural passou a ser urbano. Deixou de ser elitista e passou a incorporar camadas menos favorecidas. Aos poucos, foi perdendo suas características em Portugal e ganhou força no Brasil, sua colônia. A partir de 1930, as escolas de samba se desenvolveram no país e o Carnaval acabou incorporado à cultura nacional, como sendo uma tradicional festa brasileira - considerado o maior festival do mundo. Uma festa do mundo antigo que tem no Brasil milhares de atuantes, onde histórias são contadas em versos. Mesmo tendo sido adotado como comemoração da Igreja Católica por volta de 590 E.C. cada vez mais sua origem vem sendo retomada, e especialmente no Rio de Janeiro muitas vezes Deuses Pagãos são trazidos ao povo (gregos, romanos e africanos na maioria).

Representação de Deuses Pagãos Africanos
na Comissão de Frente da Mangueira (Marquês da Sapucaí (RJ), 2012)
Vista da Marquês da Sapucaí (RJ) no Carnaval 2012
A maior festa popular do mundo pelo Guinness Book

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